terça-feira, 14 de setembro de 2010


A obra poética de Vinicius de Moraes é dividida habitualmente em duas fases: uma de sentido místico e lírico, e outra mais sensual e de linguagem mais simples, que ele mostra também nas composições populares. Seu domínio da linguagem culta foi decisivo para conferir qualidade literária à música popular brasileira, enriquecida com suas letras.

Em 1933 lançou seu primeiro livro de poemas. Nessa época já era amigo dos poetas Manuel Bandeira, Mário de Andrade e Oswald de Andrade. A carreira literária de Vinícius de Morais começou com o livro de poemas O caminho para a distância (1933) que, como Forma e Exegese (1935) e Ariana, a mulher (1936), revela as preocupações místicas e transcendentais do autor, de estilo poético ainda indefinido.

O quarto livro, Novos poemas (1938), também se inclui nessa primeira fase. Dois livros - Cinco elegias (1943) e Poemas, sonetos e baladas (1946) - marcam a transição para uma nova fase, mais voltada para a participação política e social, além da sensualidade. São desse período a Antologia poética (1955), o Livro dos sonetos (1957) e Novos poemas II (1959), que traz o poema "Receita de mulher". Na década de 1960 publicou mais três livros: Procura-se uma rosa, Para viver um grande amor (ambos de 1962) e Para uma menina com uma flor (1966), de crônicas. A arca de Noé (1970) é um livro de poesia para crianças.

Sem dúvida alguma Vinicius de Moraes foi um grande representante do lirismo amoroso dos nossos tempos. Ele conseguiu exprimir de forma realista o amor existente entre um homem e uma mulher. Após a primeira fase assumiu inteiramente o papel de poeta do amor e do mundo em que vivemos. Os sonetos de Vinícius surpreendem pela capacidade de atualizar a lírica de Camões. O "Soneto da Fidelidade" figura entre os melhores momentos do autor nessa forma. A preocupação política e social se revelam em poemas como "Operário em Construção".

Dele disse Carlos Drummond de Andrade: "Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural". "Eu queria ter sido Vinicius de Moraes". Otto Lara Resende assim o definiu: "Manuel Bandeira viveu e morreu com as raízes enterradas no Recife. João Cabral continua ligado à cana-de-açúcar. Drummond nunca deixou de ser mineiro. Vinicius é um poeta em paz com a sua cidade, o Rio. É o único poeta carioca". Mas ele dizia nada mais ser que "um labirinto em busca de uma saída".

O que torna Vinicius um grande poeta é a percepção do lado obscuro do homem e a coragem de enfrentá-lo. Parte dos temas fundamentais: mistério, paixão e a morte. Quando deixa a poesia em segundo plano para se tornar show-man da MPB, para viver nove casamentos, para atravessar a vida viajando, Vinicius está exercendo, mais que nunca, o poder que Drummond descreve, sem conseguir dissimular sua imensa inveja: "Foi o único de nós que teve a vida de poeta".

Carlos Drummond de Andrade considerado um dos maiores representantes da literatura brasileira do século XX. Sua carreira poética pode ser dividida em 4 fases. Cada uma delas é composta por obras que nos permitem acompanhar a evolução de seus temas e sua visão de mundo.
A 1ª fase (a fase gauche) tem como características o pessimismo, o isolamento, o individualismo e a reflexão existencial. Nota-se nesta fase um desencanto em relação ao mundo.
Obras “Alguma Poesia” (1930) “Brejo das Almas” (1934) Características dessas obras: ironia, o humor e a linguagem coloquial.
A 2ª fase, chamada fase social, é marcada pela vontade do poeta de participar e tentar transformar o mundo, o pessimismo e o isolamento da 1ª fase é posto de lado. O poeta se solidariza com os problemas do mundo.
Obras
“Sentimento do mundo” (1940) “José” (1942) “Rosa do Povo” (1945)
A 3ª fase pode ser dividida em 2 momentos: poesia filosófica e poesia nominal.
Poesia Filosófica: textos que refletem sobre vários temas de preocupação universal como a vida e a morte.

Obras
“Fazendeiro do ar” (1955) “Vida passada a limpo” (1959) Poesia Nominal: repletas de neologismos e aliterações. Obras “Lição de coisas” (1962) A fase final (o tempo das memórias) Como o próprio nome já diz, as obras desta fase (década de 70 e 80), são cheias de recordações do poeta. Os temas infância e família são retomados e aprofundados além dos temas universais já discutidos anteriormente. Obras “Boitempo” “Boitempo III” “As impurezas do branco” “Amor Amores” Drummond também escreveu contos e crônicas
Temas típicos da poesia de Drummond
O Indivíduo
: "um eu todo retorcido". o indivíduo na poesia de Drummond é complicado, torturado, estilhaçado.

A Terra Natal
: a relação com o lugar de origem, que o indivíduo abandona.
A Família: O indivíduo interroga, sem alegria, mas sem sentimentalismo, a estranha realidade familiar, a família que existe nele próprio.
Os Amigos: "cantar de amigos", (título que parafraseia com as Cantigas de Amigo). Homenagens a figuras que o poeta admira, próximas ou distantes, de Mário de Andrade a Manuel Bandeira, de Machado de Assis a Charles Chaplin. O Choque Social. O espaço social onde se expressa o indivíduo e as suas limitações face aos outros.
O Amor: Nada romântico ou sentimental, o amor em Drummond é uma amarga forma de conhecimento dos outros e de si próprio A Poesia. O fazer poético aparece como reflexão ao longo da sua poesia. Exercícios lúdicos, ou poemas-piada. Jogos com palavras, por vezes de aparente inocência naïf.
A Existência: a questão de estar-no-mundo...

sábado, 11 de setembro de 2010

Jorge de Lima


Os textos de Jorge de Lima abrigam uma colossal possibilidade de leituras (a convivência entre a tradição e o novo, o vulgar e o sublime, o regional e o universal) refletem um artista em constante mutação, que experimentou estilos diversos como o parnasiano, o regional o barroco, o religioso. Na sua multiplicidade, Jorge de Lima pertence a todas as épocas, mesmo se reportando a um tema ou uma situação específica, ao tocar em injustiças sociais que mudaram pouco desde o início da civilização e quando escreve sobre as grandes dúvidas de todos nós, "…da miséria humana, da tentativa de superação de nossas amarras e de nossas limitações.", explica o poeta e jornalista Claufe Rodrigues, leitor voraz de Jorge de Lima.

Vinicius de Moraes


Após alguns anos foi estudar Literatura Inglesa na Universidade de Oxford, no entanto, não chegou a se formar em razão do início da Segunda Guerra Mundial. Ao retornar ao Brasil, morou em São Paulo, onde fez amizade com Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade e também efetivou o primeiro de seus nove casamentos. Logo após algumas atuações como jornalista, cronista e crítico de cinema, ingressou na diplomacia em 1943. Por causa da carreira diplomática, Vinicius de Moraes viajou para Espanha, Uruguai, França e Estados Unidos, contudo sem perder contato com o que acontecia na cultura do Brasil.
É um dos fundadores do movimento revolucionário na música brasileira, chamado de “Bossa Nova”, juntamente com Tom Jobim e João Gilberto. Com essa nova empreitada no mundo da música, Vinicius de Moraes abandonou a diplomacia e se tornou músico, compôs diversas letras e viajou através das excursões musicais. Durante esse período viveu intensamente os altos e baixos da vida boêmia, além de vários casamentos.

O início da obra de Vinicius de Moraes segue uma aliança com o Neo-Simbolismo, o qual traz uma renovação católica da década de 30, além de uma reformulação do lado espiritual humano. Vários poemas do autor enquadram-se nesta fase de temática bíblica. Porém, com o passar dos anos, as poesias foram focando um erotismo que passava a entrar em contradição com a sua formação religiosa. Após essa fase de dicotomia entre prazer da carne e princípios cristãos, infelicidade e felicidade, Vinicius de Moraes partiu para uma segunda fase poética: a temática social e a visão de amor do poeta.
Há diferenças na estrutura da primeira fase poética do escritor em relação à segunda: a mudança dos versos longos e melancólicos para uma linguagem mais objetiva e coloquial.

Vinicius de Moraes foi um poeta que marcou a literatura e a música, e até hoje é relembrado, inclusive em nomes de avenidas, ruas, perfumes, etc.

Carlos Drummond de Andrade

Drummond, como os modernistas, proclama a liberdade das palavras, uma libertação do idioma que autoriza modelação poética à margem das convenções usuais. Segue a libertação proposta por Mário e Oswald de Andrade; com a instituição do verso livre, acentua-se a libertação do ritmo, mostrando que este não depende de um metro fixo (impulso rítmico). Se dividirmos o Modernismo numa corrente mais lírica e subjetiva e outra mais objetiva e concreta, Drummond faria parte da segunda, ao lado do próprio Oswald de Andrade.

O primeiro poema de Alguma poesia é o conhecido "Poema de sete faces", do qual transcreve-se a primeira estrofe:

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

A palavra gauche (lê-se gôx), de origem francesa, corresponde a "esquerdo" em nosso idioma. Em sentido figurado, o termo pode significar "acanhado", " inepto". Qualifica o ser às avessas, o "torto", aquele que está à margem da realidade circundante e que com ela não consegue se comunicar. É assim que o poeta se vê. Logicamente, nesta condição, estabelece-se um conflito: "eu " do poeta X realidade. Na superação desse conflito, entra a poesia, um veículo possível de comunicação entre a realidade interior do poeta e a realidade exterior.

Variantes da palavra gauche - como esquerdo, torto, canhestro - aparecem por toda a obra de Drummond, revelando sempre a oposição eu-lírico X realidade externa, que se resolverá de diferentes maneiras.

Muitos poemas de Drummond funcionam como denúncia da opressão que marcou o período da Segunda Grande Guerra. A temática social, resultante de uma visão dolorosa e penetrante da realidade, predomina em Sentimento do mundo (1940) e A rosa do povo (1945), obras que não fogem a uma tendência observável em todo o mundo, na época: a literatura comprometida com a denúncia da ascensão do nazi-fascismo.

Depois da morte de Drummond, reuniu-se no livro O amor natural uma série de poemas eróticos mantidos em sigilo e que foram associados a um suposto caso extraconjugal mantido pelo poeta. Verdadeiro ou não o caso, interessa é que se trata de poemas bem audaciosos, em que se explora o aspecto físico do amor. Alguns verão pornografia nestes poemas; outros, o erotismo transformado em linguagem da melhor qualidade poética.

Metalinguagem: a reflexão sobre o ato de escrever fez parte das preocupações do poeta.

O tempo é um dos aspectos que concede unidade à poesia de Drummond: o tempo passado, o presente e o futuro como tema.

Toda a trajetória do poeta - qualquer que seja o assunto tratado - marca-se por uma tentativa de conhecer-se a si mesmo e aos outros homens, através da volta ao passado, da adesão ao presente e da projeção num futuro possível.

O passado renasce nas reminiscências da infância, da adolescência e da terra natal. A adesão ao presente concretiza-se quando o poeta se compromete com a sua realidade histórica (poesia social). O tempo futuro aparece na expectativa de um mundo melhor, resultante da cooperação entre todos os homens.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010